Sabidamente, a dor torácica é uma das causas mais comuns de visitas às emergências e consultórios médicos. Estima-se que no Brasil, 4 milhões de pacientes são atendidos com essa queixa, podendo de 2 a 3% serem liberados sem o diagnóstico correto de infarto agudo do miocárdio. Mas devemos saber que nem sempre esse tipo de dor poderá estar relacionada a doenças do coração propriamente ditas, e cabe ao médico através de uma história clínica minuciosa, investigar e classificar quanto ao tipo de dor. Através da anamnese conseguimos classificar quanto à probabilidade do tipo da dor ser de origem coronariana (anginosa) ou não.
* Dor tipo A: definitivamente anginosa;
* Dor tipo B: provavelmente anginosa;
* Dor tipo C: provavelmente não anginosa.
* Dor tipo D: definitivamente não anginosa.
Essa classificação é muito importante, pois faz total diferença no seguimento e acompanhamento do paciente. A dor torácica é um importante sintoma e deve ser investigada de forma racional e por um especialista. Então como proceder? Quais exames devemos fazer? A quem devo procurar? Como é um assunto de grande importância, sugiro que acompanhe esta leitura, que traz um alerta: e quando a dor torácica é atípica?
No início da matéria, mostrei o cenário e classifiquei o tipo de dor torácica / dor no peito torácica. Mas agora convido ao caro leito a entender a indagação proposta:
* Posso infartar sem dor? A resposta é sim! Infelizmente, uma dos principais métodos que auxiliam ao médico diante de um cenário de urgência ou emergência médica, o eletrocardiograma, pode ser interpretado corretamente por apenas 34% de médicos. Essa fonte está em um estudo com candidatos à residência médica na USP, publicado na revista da sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) em 2020. Assim, um paciente pode ser atendido, e mesmo que ressalte seus principais fatores de risco cardiovasculares tais como: hipertensão, diabetes, tabagismo, dislipidemia, sedentarismo, história familiar…detalhes eletrocrdiográficos ou no popular “eletro”- ECG podem passar despercebidos e um paciente grave ser liberado do atendimento. Um protótipo da confusão nos atendimentos são por exemplo os pacientes diabéticos. Muitas vezes seus sintomas podem ser negligenciados e a sua queixa pode confundir o raciocínio do médico. O componente anginoso (isquemia ou infarto do miocárdio) poderia se manifestar com náuseas ou vômitos, dor mandibular, dor no ombro, dor na face anterior do pescoço, falta de ar…aí que entra o papel do médico para ficar atento ao “cenário” e a importância da história que o paciente tem de forma pregressa. Então, apesar dos adventos do mundo moderno com toda tecnologia e aparatos da inteligência artificial…o in site e a boa história médica, são insubstituíveis neste contexto. Um alarmente entre uma das síndromes cardiológicas mais conhecidas no mundo acadêmico, é a chamada de síndrome de Wellens, que se apresenta com características típicas no ECG, e naquele momento, o paciente pode não estar com nenhuma queixa de dor. Então, antes de pensar que uma dor ou um sintoma atípico, não seja de origem coronariana – e potencialmente grave, é crucial que diagnósticos diferenciais sejam pensados e investigados com afinco.
Fica o recado! Um diagnóstico dado em um momento de pronto atendimento médico, não deveria ser definidor e não deixar o paciente na zona de conforto, mas sim, buscar causas possíveis e acompanhamento com seu médico.
Como diz nosso filósofo contemporâneo, Mário Sérgio Cortella “o impossível não é um fato: é uma opinião.”