Dra. Lana Maria

Médica Psiquiatra
CRM 52 69489-4
Titulada pela AMB/ABP
Área de atuação: Psicogeriatrica

Dra. Lana Maria

Médica Psiquiatra
CRM 52 69489-4
Titulada pela AMB/ABP
Área de atuação: Psicogeriatrica

Os chamados Fortuner Tiger, ou popularmente conhecidos como jogos do tigre ou jogos do tigrinho, têm ganhado grande notoriedade nos últimos anos. Trata-se de jogos on-line baseados na sorte, anteriormente classificados como jogos de azar, mas, que hoje, atraem um público diverso devido à facilidade de acesso. Contudo, além de sua popularidade crescente, essas plataformas também vêm causando profundos impactos psicológicos negativos, especialmente em adolescentes e jovens adultos.

Esses jogos funcionam como verdadeiras armadilhas psicológicas. O apelo principal está na promessa de ganhos financeiros rápidos, alimentando um ciclo de excitação e frustração nos participantes. Para muitos jovens, esses jogos representam uma fuga da realidade, um espaço onde a possibilidade de ganhar dinheiro facilmente cria uma ilusão de controle. Entretanto, essa dinâmica é altamente prejudicial, pois reforça comportamentos impulsivos e de risco, ao mesmo tempo em que explora a vulnerabilidade emocional do jogador (Volkow & Morales, 2015; Petry et al., 2014).

Do ponto de vista psiquiátrico, é importante compreender como esses jogos impactam o cérebro, especialmente em pessoas mais jovens. O envolvimento constante em atividades que oferecem recompensas imediatas ativa o sistema de recompensa dopaminérgico, gerando uma sensação temporária de prazer. Contudo, essa ativação contínua também pode levar ao desenvolvimento de vícios comportamentais, semelhantes ao que ocorre com substâncias químicas. Isso explica por que muitos jogadores se tornam dependentes, enfrentando dificuldades para interromper a prática, mesmo quando ela começa a causar prejuízos significativos (Casey et al., 2008; Steinberg, 2010).

Um dos grupos mais afetados são os adolescentes, que possuem um cérebro em desenvolvimento e maior propensão a comportamentos impulsivos. Esses jovens, muitas vezes atraídos pela competitividade e pela promessa de sucesso financeiro, acabam negligenciando estudos, relacionamentos e outras atividades saudáveis. Esse tipo de comportamento pode ser o gatilho para transtornos como: ansiedade, depressão e até mesmo sintomas relacionados ao Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) (Gainsbury, 2015; Hing et al., 2019).

Além dos prejuízos emocionais, os jogos do tigre também causam impactos financeiros consideráveis. Muitos jogadores perdem quantias significativas de dinheiro, o que pode gerar conflitos familiares, sensação de culpa e um agravamento do estresse psicológico. Em casos mais graves, essa situação pode levar ao endividamento e a problemas legais. Famílias frequentemente relatam dificuldades para lidar com filhos ou parentes envolvidos com esses jogos, o que evidencia a dimensão social do problema (Hing et al., 2019).

Outro aspecto preocupante é o efeito cumulativo do isolamento social. Jogadores que passam horas conectados a essas plataformas muitas vezes se afastam de interações presenciais, perdendo importantes habilidades sociais. Esse isolamento pode levar a um ciclo de retroalimentação, no qual o jogo se torna o único meio de gratificação emocional, aprofundando ainda mais os impactos negativos (Griffiths & Pontes, 2020).

Do ponto de vista preventivo, é essencial investir em educação e conscientização. É preciso que escolas e famílias abordem o tema dos jogos on-line com seriedade, ensinando crianças e adolescentes sobre os riscos associados a essas práticas. Da mesma forma, o papel do Estado e das plataformas digitais é fundamental. Regular e monitorar esses jogos é crucial para evitar que eles se tornem acessíveis a populações vulneráveis (King et al., 2018).

Adicionalmente, campanhas de saúde mental podem ajudar a identificar e tratar os primeiros sinais de vício em jogos. Profissionais de saúde devem estar preparados para lidar com essa nova demanda, oferecendo intervenções terapêuticas que abordem tanto os aspectos emocionais quanto os comportamentais do problema. O tratamento pode incluir psicoterapia cognitivo-comportamental, estratégias para controle do impulso e, em alguns casos, uso de medicação para tratar comorbidades como: ansiedade ou depressão (King et al., 2018; Griffiths & Pontes, 2020).

Os jogos do tigre são mais do que uma distração inofensiva; eles representam um desafio crescente para a saúde mental e o bem-estar social. Para enfrentar essa questão, é necessário um esforço coletivo que envolva famílias, educadores, profissionais de saúde e autoridades reguladoras. Somente com ações coordenadas será possível proteger as novas gerações dos efeitos devastadores dessa prática, promovendo um ambiente mais saudável e equilibrado para o desenvolvimento emocional e social.

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