Entrevista Dr. Rafael Chácar – Cardiologista
Num meio de uma manhã após uma sessão de reabilitação cardíaca, o jovem médico Rafael Chácar Lima nos recebe para um papo descontraído, tentando entender um pouco dessa sua paixão pela cardiologia. Confortavelmente apresentados, iniciamos nosso papo…
Os problemas cardiológicos envolvendo a família, por parte de mãe, foi o gatilho para desencadear o sonho de ser médico especialista nessa área. Formado há 12 anos, pela Faculdade de Medicina de Campos, especializado em cardiologia pelo Instituto D´or e com formação nas áreas de Ergometria e Reabilitação Cardíaca pelo Instituto Nacional de Cardiologia (Laranjeiras), Dr. Rafael, divide seu tempo entre os plantões da Unidade de Pacientes Graves (UPG) do Hospital Ferreira Machado, na coordenação médica do Espaço Viver Bem, da Unimed Campos e como professor na área de emergências práticas e ambulatórios de cardiologia da FMC. Recentemente na Fisioclinica Health vem atuando em seu consultório e junto a sua equipe orquestrada pelo Professor Anderson Morales atua no Estúdio de Performance da Reabilitação Cardíaca.
SP – O que levou o senhor a escolher a medicina?
RCL – A minha família por parte de mãe era quase toda cardiopata, presenciei vários momentos difíceis junto deles, mas ver meu avô – Alcemir Chácar, que pra mim era um segundo pai, sofrendo com essa patologia, foi quem me fez entender que eu precisava fazer alguma coisa para ajudar as pessoas, que passavam pela mesma situação. Eu tinha 12 anos, quando vi a camisa que meu avô adorava sendo rasgada ao meio, para que fosse feita uma reanimação cardíaca. Essa cena ficou muito marcada e hoje como médico busco ajudar não só meus pacientes, mas também a família deles. E hoje, exatamente onde ocorreu essa fatalidade com meu avô, é onde atuo no HFM.
SP – Em Campos o senhor é um dos poucos especialistas em reabilitação cardiovascular e em ergometria. Qual a importância dessa área para uma pessoa cardiopata?
RCL – Sou cardiologista e dentro dessa área, me especializei em reabilitação e ergometria, porque descobri que não basta o paciente tomar somente os remédios, ou simplesmente fazer uma cirurgia e voltar pra casa achando que está tudo resolvido. Para os pacientes cardiopatas, a reabilitação não é apenas uma opção coadjuvante, ela faz parte da prescrição médica. Como presenciamos muitas conquistas, principalmente na RC da Unimed Campos, onde estamos ganhando notoriedade na ajuda da recuperação dos pacientes. O paciente precisa fazer com que o corpo e a mente sejam trabalhados para manter a saúde funcionando bem. E com a reabilitação sendo efetivamente bem realizada e com profissionais especializados e capacitados, chegamos a reduzir em até 25% de morbi e mortalidade comprovadamente em inúmeros estudos.
SP – Como funciona na prática a reabilitação?
RCL – A reabilitação de um paciente cardíaco é multidisciplinar. É importante contar com profissionais de várias áreas, como: educador físico, fisioterapeuta, nutricionista assim como o apoio de profissionais para atender na área da psicologia. A gente acaba envolvendo uma gama de profissionais, e todos são importantes nesse processo, sem nenhum demérito a nenhum deles. É uma engrenagem, só funcionam se todos fizerem as suas partes.
SP – A pandemia da Covid-19 deve ter complicado bastante esse processo, por se tratar de pacientes altamente vulneráveis né?
RCL – Esse tempo da pandemia foi bem complicado, tivemos que ficar parados, fechamos o setor de reabilitação, principalmente por se tratar de pacientes que são muito vulneráveis e não poderiam correr riscos a exposição do vírus da Covid, mas buscamos orientá-los para que não deixassem de fazer atividades em possíveis de serem feitas em casa. Foi um período triste, mas que graças a Deus passou e logo que assim foi autorizada, nós retomamos nossas atividades.
SP – A consulta é sem dúvida um momento de grande importância de troca entre paciente e médico. É através dela que é possível definir um tratamento. O senhor tem uma forma diferente para conseguir as informações que precisa saber né?
RCL – A consulta é um momento onde você tem que conhecer verdadeiramente seu paciente. É durante essa conversa que você descobre a rotina e os hábitos do seu paciente. É através da consulta que temos o rumo dos exames e tratamentos que precisam ser realizados. Muita gente até reclama de consultas demoradas, mas isso geralmente acontece durante a espera, mas quando chega ao consultório e começa a sentir a importância e a confiança no profissional, isso muda. Eu tenho uma sigla que eu uso sempre nas minhas consultas. Sempre começo perguntando se ele tem SEDEES – e o que seria isso? O S, a primeira letra é sobre o sono, é importante saber se alguém já perguntou sobre o sono ou se só passou um medicamento para dar sono, temos que falar da importância e da higiene do sono. O E é de exercício, que pra mim é inegociável! O D é a dieta, porque é fundamental saber como é a alimentação do paciente. O outro E, é infelizmente o que está muito presente na vida de quase toda população, que é o estresse, principalmente depois desse período de Covid-19. O nosso terceiro E é de espiritualidade, nesse sentido não falo de religião, mas de fé, que é muito importante também para quem está passando por um momento difícil de saúde. E a última letra o S é de sexualidade. Muitos têm vergonha de falar sobre esse assunto depois que passa por algum problema cardíaco, mas essa é uma questão que tem que ser falada e discutida com o médico. Através da conversa a gente passa orientações como vai funcionar a vida sexual, porque ela ainda existe sim, só precisa ser adequadamente orientada.
SP – Recentemente, acompanhamos a inauguração do Centro Municipal de Cardiologia de São João da Barra, é verdade que você fez parte da idealização desse espaço? É um sonho realizado como médico?
RCL – Enquanto médico, a gente quer oferecer saúde as pessoas, quer oferecer qualidade de vida e dignidade com humanidade e respeito. Fazer com que elas tenham acesso aos tratamentos específicos necessários. O Centro de Cardiologia nasceu da percepção de alguns profissionais do município, que viram que uma parte da população, a mais vulnerável, ter dificuldades com alguns exames cardiológicos, uma chaga como em qualquer outro município do estado do Rio de Janeiro. Então numa conversa bem sucedida com a ex-prefeita Carla Machado, que foi muito empática e deu total apoio a esse projeto e com a atual e competente gestão da Secretaria de Saúde do município sãojoanesnse, nasceu o Centro Municipal de Cardiologia de São João da Barra. Nesse maravilhoso espaço podemos contar com: mapa, holter de 24 horas, ecocardiograma, eletrocardiograma, ecocardiograma infantil, teste ergométrico e consultas cardiológicas adultas e infantis. Para isso temos uma equipe muito bacana que vem comprando a idéia de humanização do SUS e executando um belíssimo trabalho. Tenho um grande orgulho desse serviço. Ver pessoas que não tinham oportunidade de realizar esses exames em um único local, com dignidade e conforto, nos realiza.
SP – Quem quiser se consultar com o senhor e começar um processo de reabilitação cardiovascular, como fazer?
RCL – Eu atendo na Fisioclinica Health, que fica na Rua Barão da Lagoa Dourada, 324, no Parque Avenida Pelinca e no Espaço Viver Bem da Unimed Campos, que fica na Rua Mariano de Brito, 69, no Parque Tamandaré. Vale lembrar que o coração é a mola mestra do nosso corpo, e que ele deve ser acompanhado rotineiramente.
SP – É uma história longa para um médico ainda jovem! Aí dentro ainda cabe alguma tarefa?
RCL – Obrigado pelo jovem, mas já tenho meus cabelos brancos…só tenho que agradecer a Deus e toda minha família (um beijo especial para minha pequena Maria) pelas pequenas conquistas. Mas minha luta diária é sempre tentar alcançar a humildade e as boas práticas médicas e tentar realizar o sonho da minha avó Maria de Lourdes que pediu aos meus irmãos: “ser médico de homens e de almas”.