Com quase 50 anos de profissão, tendo se tornado um dos mais respeitados nomes da psiquiatria em Campos dos Goytacazes (RJ) e na região norte fluminense, Dr. Maurício Lobo Escocard – médico psiquiatra e neurologista, formado pela Faculdade de Medicina de Campos (FMC), com internato em psiquiatria no Hospital Federal do Andaraí e residência em neurologia pediátrica, pela Divisão Nacional de Saúde Mental, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pós-graduado em neurologia, professor titular da cadeira de psiquiatria da FMC e membro titular das Sociedades Brasileiras de Psiquiatria, Neurofisiologia e Medicina do Sono – conta um pouco de sua trajetória pessoal e profissional, conforme acompanhamos a seguir.
SP – Como a medicina entrou em sua vida?
MLE – A medicina entrou na minha vida, meio que por acaso. Desde novo, tive muita facilidade com línguas estrangeiras, o que me levou, inclusive a ter como um dos meus primeiros trabalhos, ser professor de inglês. A partir daí, olhava com muito carinho para a carreira diplomática e, desde os tempos de Liceu de Humanidades de Campos, isso parecia cada vez mais forte. Aliás, o Liceu me ensinou a ver o mundo de outra maneira, não era só uma escola de educação regular, mas, uma escola da vida. Na mesma classe havia colegas abastados, dividindo o mesmo espaço com colegas muito humildes, por exemplo. Isso nos colocava em um mesmo patamar social, de igualdade e permitindo que todos tivéssemos as mesmas oportunidades.
SP – Mas o que o fez mudar da diplomacia para a medicina?
MLE – No período em que eu estava para tomar as decisões que dariam rumo à minha vida, alguns acontecimentos me fizeram mudar o trajeto como, por exemplo: a época do governo militar, a mudança da capital do país, junto com o fato de conhecer a minha então namorada, hoje, minha companheira de uma vida, entre outras razões. Minha esposa, Tânia, teve uma forte participação nas minhas decisões, ainda que indiretamente. Além de eu ter passado por episódios não tão positivos, na era militar, para alcançar alguns objetivos (alcançados posteriormente) quando estava mais decidido a ingressar no Instituto Rio Branco. Este havia sido transferido para Brasília. Naquele momento, ficar longe da minha namorada não me parecia uma ideia muito agradável e, ainda bem que tomei a decisão certa. Hoje, temos uma bela história e uma linda família, com nossos filhos encaminhados, o Gabriel, que hoje é meu colega psiquiatra e sócio na Clínica Novos Rumos, e a Maria Rachel, que é neuropsicóloga e mãe do nosso amado neto Joaquim, de 11 anos.
SP – Como os planos da diplomacia não evoluíram, onde entrou a medicina?
MLE – Durante esse período, eu pensei em várias opções e me interessei muito por psicologia, entretanto, apareceu uma oportunidade de prestar um vestibular, mais a caráter de teste, para a Faculdade de Medicina de Campos. Eu queria mesmo era ter uma vivência de como participar de um vestibular tão concorrido, mas sem muita convicção de sucesso, uma vez que meu forte eram as línguas, e não tanto, as áreas mais correlatas ao curso, biologia e química. Naquela época, eram três provas (ou fases), a primeira das linguagens, a segunda de biologia e a terceira de química e física, sem história, geografia, matemática, etc., eu me garantia na primeira, nas demais nem tanto. Após a primeira nota, quase gabaritada a prova, a banca desconfiou de que eu pudesse estar trapaceando (colando) e me isolou na etapa seguinte, e realmente, meu desempenho caiu, talvez por não estar na minha zona de conforto. Mas, até para a minha própria surpresa, na terceira e última etapa, acabei tendo um desempenho melhor que a primeira, conseguindo então, ingressar na Faculdade de Medicina de Campos.
SP – E a psicologia, a diplomacia, foram deixadas de lado assim tão fácil?
MLE – Não, de forma alguma! Tentando enxergar alguma coisa cômica, para não ser trágico, na minha primeira aula de anatomia, ao ver sangue, minha visão ficou turva e tive dificuldades em me adaptar, mas na minha cabeça, aquilo tudo era passageiro, porque eu estava apenas esperando a oportunidade de prestar novo vestibular e iniciar psicologia. Porém, as coisas foram mudando e eu fui me apaixonando pela medicina, sempre focando na psiquiatria, o que mais me aproximava da psicologia. Ao longo de vários acontecimentos no período acadêmico, aparece então a possibilidade de fazer residência em psiquiatria no Rio de Janeiro, condicionada ao meu desempenho na faculdade. E eu fiquei de segunda época em cirurgia! Meu professor era muito rigoroso e eu fiz a bobagem de dizer a ele que só queria poder concluir o curso para fazer minha residência em psiquiatria, que eu não gostava da disciplina dele. Foi aí que ele começou uma verdadeira maratona para me fazer apreciar e gostar de cirurgia. Motivado pelo desafio a mim mesmo proposto, me dediquei ao máximo para concluir o curso, o que fiz com o reconhecimento frustrado do professor, Dr. Guilherme Eurico da Silva, já que não me tornei um amante da disciplina (risos). Depois tive a oportunidade de ser aluno do também saudoso Dr. Hugo Nunes de Carvalho, que além de me aproximar e aquecer ainda mais a minha paixão pela psiquiatria, ao perder sua vida num acidente de automóvel, teria dito à sua esposa que seu desejo era que eu seguisse seus passos, deixando inclusive, seus livros como herança pra mim. Assim, me consolidei na psiquiatria, que hoje enxergo como minha verdadeira vocação e trabalho com muito amor.
SP – Mas e a diplomacia, a paixão pelas línguas estrangeiras?
MLE – A diplomacia eu deixei guardada como uma lembrança de um desejo consequente da minha relação com as línguas estrangeiras, mas não o convívio com elas. Inclusive, na época da censura, muita literatura havia sido proibida e o que me permitia me aprofundar, em vários assuntos restritos, era a disponibilidade de títulos em inglês e francês, aos quais eu recorria para saciar meu desejo pelo conhecimento, sem ser flagrado pelos órgãos repressores da época. Ainda assim, já há anos atuando na medicina, ingressei na Faculdade de Educação de Petrópolis (RJ), onde me graduei e fiz mestrado, também em Educação. Eu já era professor da FMC, da Faculdade de Odontologia de Campos (FOC), do curso de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF) da Universidade Estácio de Sá e, mais recentemente, do Instituto Superior de Educação Nossa Senhora Auxiliadora (ISECENSA).
SP – E como se tornou professor da FMC, e das demais universidades?
MLE – Também por acaso (risos), ajudando uma pessoa conhecida, que sofrera um acidente automobilístico, sem gravidade, apenas com o veículo mesmo, me vejo parado em frente à FMC, quando o diretor, o saudoso Dr. Luiz Carlos Mendonça da Silva, me encontra, sabe da minha especialização em psiquiatria e me oferece a vaga de professor, em substituição a um colega que estava deixando a instituição. De lá pra cá, são 47 longos e bons anos como professor dessas instituições tão respeitadas na cidade e na região.
SP – Onde está atendendo atualmente?
MLE – Hoje, eu atendo no meu consultório, no Ed. Alexander Fleming, sala 203, Centro (22) 99981-8690; na Clínica Novos Rumos, na Rua Voluntários da Pátria, 179, em frente ao Centro de Saúde de Campos (22) 99888-1071; e no Hospital Escola Álvaro Alvim, (22) 2726-6700.