É consenso na comunidade científica que vivemos numa época geológica posterior à última glaciação, denominada Holoceno. Estima-se que ela começou a 11.700 anos antes do presente. Não se sabe ainda se ela vai durar para ser mesmo considerada uma época ou se é uma fase entre duas glaciações, como aconteceu algumas vezes. Sabe-se que houve oscilações climáticas nessa época, com alternância de fases quentes e frias. No geral, trata-se de uma época com temperaturas tépidas.
Esse aumento de temperatura, logo no início da época, permitiu a domesticação de plantas e animais, com a criação da agricultura e do pastoreio. Essas inovações representam um passo importante para a sedentarização de grupos humanos e para a invenção da roda, da tecelagem, da cestaria, da cerâmica e da metalurgia. Ao mesmo tempo, o sedentarismo favoreceu a acumulação de lixo e a disseminação de doenças transmissíveis porque as pessoas viviam aglomeradas.
Sabe-se também que a criação dos sistemas de escrita, das cidades, da divisão sexual, técnica, social e territorial do trabalho decorre do sedentarismo. O processo de urbanização foi tão rápido que acabou deslocando os centros de poder para as cidades. Em alguns lugares do mundo (Sudeste Asiático, vale do Indo, Grécia, península de Iucatã e ilha de Páscoa principalmente), as sociedades exploraram demasiadamente a natureza e provocaram crises ambientais locais.
Nenhuma delas se equipara à crise iniciada pelo Ocidente a partir do século XV da era cristã. Movidos pela economia de mercado, os ocidentais passaram a considerar os pobres e a natureza como matéria e energia a serem exploradas em caráter permanente e crescente. Parecia, à cultura ocidental, que a natureza era ilimitada em sua capacidade de fornecer energia e matéria, por um lado. Por outro, ilimitada em absorver resíduos. Esse processo foi agravado com a Revolução Industrial, que passou a usar carbono fóssil (carvão mineral, petróleo e gás natural) como combustível para a geração de energia. Ao lado das doenças causadas pela fome e pela difusão de vetores, as doenças causadas pela poluição do ar, da água e do solo agravaram os problemas de saúde. Agora numa escala global, pois a economia ocidental produziu a união do mundo, para o bem e para o mal.
Os indicadores de mudanças climática, perda de biodiversidade, intensificação dos ciclos de nitrogênio e fósforo, urbanização, esgotamento de recursos, impermeabilização do solo, destruição de ecossistemas e poluição dos oceanos são inequívocos. A Revolução Industrial e o período pós-Segunda Guerra Mundial (chamado de Grande Aceleração) acentuaram a crise. Parece que alguns limites de resiliência da Terra foram ultrapassados. Essa crise começou a ser percebida com clareza na década de 1970. Um grupo esclarecido formado por intelectuais, cientistas, governantes, empresários e cidadãos sabe que é preciso mudar o veículo da humanidade para não colidir com o planeta. Existem propostas e esforços de mudança. Elas já estão em curso, mas parecem tímidas.
Em meio à crise, estudiosos anunciam que entramos em outra época, essa produzida pela ação coletiva da humanidade dentro de um sistema econômico. A Comissão Internacional de Estratigrafia da União Internacional de Ciências Geológicas ainda não aceitou o advento de uma nova época, mas os cientistas sociais estão usando cada vez mais o conceito de Antropoceno. Dentro da academia já existem divergências. Vários estudiosos sustentam que a crise não é causada pela ação coletiva da humanidade, mas pela economia capitalista. Eles propõem, então, o conceito de Capitaloceno. Correm paralelos os conceitos de Necroceno e outros mais.