Arthur Soffiati

Professor de história e eco-historiador
Mestrado e doutorado na UFRJ

Arthur Soffiati

Professor de história e eco-historiador
Mestrado e doutorado na UFRJ

Calor é uma parte da física que estuda temperaturas de um modo geral. No popular, contudo, calor significa temperatura alta. A ONU e várias instituições meteorológicas anunciaram que, em 2023, ocorreu o dia e o mês mais quentes desde que as temperaturas começaram a ser medidas, em 1880. Em lugares diversos, registros de fenômenos meteorológicos começaram mais tarde. Falar em fenômenos climáticos mais radicais da história ou de todos os tempos é vago e cria confusão.

Devemos considerar que o planeta Terra vem se aquecendo progressivamente depois da Revolução Industrial, cujo começo situa-se no fim do século XVIII. E esse aquecimento é resultado de uma economia baseada na queima de combustíveis fósseis. Houve muita discussão a respeito. Era mais fácil negar as mudanças climáticas produzidas por uma economia de mercado ou simplesmente ignorá-las como algo de menor importância. Conservadores e progressistas agiram assim desde os primeiros anúncios de tais mudanças. Mas agora, o negacionismo se tornou insustentável.

Temperaturas altas ou oscilações climáticas acentuadas (amplitude térmica) estressam os biomas, os ecossistemas, as plantas, os animais e os humanos, podendo acarretar secas, incêndios, temporais, enchentes, ventos fortes e morte. A medicina alerta que a temperatura corporal de uma pessoa varia ao longo do dia, podendo ser influenciada por atividades físicas. Contudo, a temperatura interna do corpo humano oscila entre 36° e 36,7°. Acima disso, pode-se considerar que a pessoa está febril. Febre não é doença, mas sintoma de doença.

Se uma pessoa morre por infarto ou acidente vascular encefálico causados por altas temperaturas, o registro médico indicará que a pessoa sofria do coração. Não constará em sua ficha que altas temperaturas causaram infarto ou AVC (derrame cerebral). Indiretamente, as altas temperaturas podem levar a problemas indiretos de saúde. O suor excessivo pode causar desidratação e criar ambiente úmido no corpo que facilite o desenvolvimento de bactérias e fungos.

As fortes chuvas causadas pela intensa evaporação podem matar diretamente as pessoas, afogando-as e esmagando-as em edificações que desmoronam. A água acumulada em recipientes torna-se ambiente ideal para a multiplicação de mosquitos transmissores de doenças como: dengue, chikungunya e zica, além de febre amarela. Nas cidades, o perigo de proliferação desses insetos e de doenças é maior, porque multiplicam-se os ambientais em que a água se acumula. No campo, o controle de vetores é maior pela existência de predadores.

As variações térmicas entre as estações estão desaparecendo. Há cerca de cinquenta anos, na zona intertropical, falava-se em oscilações térmicas entre verão e inverno. Hoje, as temperaturas de inverno não são tão diferentes que as de verão. Assim, dizem, os médicos, o corpo humano está sujeito a um estresse térmico mais forte. Alerta-se também para a pequena variação entre dia e noite. Um dia quente pode ser compensado com uma noite fresca, mas as oscilações têm diminuído, levando as pessoas de posse a produzir refrigeração artificial que consome mais energia e agrava a produção de gases do efeito-estufa.

Mas não fiquemos apenas com os perigos diretamente causados ao corpo humano. O aumento das temperaturas também afeta a produção de alimentos. Várias espécies de peixes fogem da superfície do mar em busca de temperaturas mais amenas no fundo dele. As chuvas e as secas provocam também queda de safra, reduzindo a oferta de alimentos.

Copyright © 2023 Todos os Direitos Reservados. | Desenvolvido por Agência Destake – Criação de Sites