É sabido e notável que a obesidade se tornou uma epidemia no Brasil e no mundo. De acordo com dados epidemiológicos, a prevalência de indivíduos obesos no país cresceu 60% nos últimos 10 anos e hoje cerca de 54% dos brasileiros estão acima do peso e 19% estão obesos. O recente relatório assustador publicado pela Federação Mundial de Obesidade mostra que no ritmo que estamos, em 2035 mais da metade da população mundial terá sobrepeso ou obesidade.
A obesidade deve ser entendida como uma doença crônica e recidivante (embora ainda seja encarada como uma “escolha baseada em hábitos ruins de vida”); com bases fisiológicas complexas e multifatoriais, sendo a genética um fator extremamente importante para o seu desenvolvimento. E quanto mais precoce o inicio da obesidade, maior a probabilidade de existirem causas genéticas predominantes. Recentes estudos apontam que até 70% do risco de obesidade é genético, e 80% desses genes estão no cérebro, fazendo o indivíduo ter mais fome, mais impulso para comer ou trazendo dificuldade de resistir às tentações, por exemplo.
Porém, como comentado anteriormente, a dificuldade de se encarar a obesidade como uma doença, faz com que os próprios pacientes acreditem terem a total responsabilidade sobre estarem acima do peso ou são sempre estigmatizados nesse sentido: “está gordo porque não faz dieta”, “está gordo porque é preguiçoso”, “não tem forca de vontade” e por aí vai… Acontece que essa visão errônea e preconceituosa da doença faz com que haja um atraso importante na busca por tratamentos médicos confiáveis e aumenta, a busca por informações em fontes não confiáveis, como redes sociais.
Em contrapartida, se você que sofre de sobrepeso ou obesidade é atendido por um profissional de saúde por qualquer queixa (para tratar sua pressão, seu colesterol, diabetes…) e no final da consulta ouviu um simples “você precisa emagrecer”, você também não está sendo tratado. Conselhos vagos e sem realmente colocar o tema peso em foco geralmente não são eficazes para fazer o indivíduo perder peso.
É inegável o papel da nutrição e do exercício físico no combate à obesidade, é o que chamamos de mudança de estilo de vida. Mas entenda que para muitos, na verdade para a maioria dos obesos, isso não será o suficiente. Mais de 80%, mesmo que altamente motivados, falham em conseguir perder peso apenas com atividade física e dieta. Com a perda de peso, ocorrem mecanismos e respostas fisiológicas adaptativas, como aumento de apetite e redução do gasto energético basal, que dificultam a manutenção do peso perdido.
Diante de todas essas informações fica fácil entender a importância do paciente procurar atendimento especializado para tratar a obesidade e também a importância do tratamento medicamentoso anti-obesidade. Estamos falando de pessoas que precisam tratar a sua doença, e não a sua “sem vergonhice”, como muitos pensam. Por isso, precisamos de medicações seguras, eficazes e com respaldo científico para tal abordagem.
O tratamento anti-obesidade é baseado em características individuais, baseadas no histórico pessoal e familiar do paciente, no perfil metabólico, nas suas comorbidades psicologias, no tipo do “comer” (uma pessoa pode ser mais beliscadora e outra mais de “pratão” de comida). Estima-se que um terço das pessoas que procuram tratamento, tem transtorno de compulsão alimentar. Então, o peso seria somente a “ponta do iceberg” nesses casos, e o foco se dá no tratamento da compulsão. Por isso, não existe uma receita de bolo no tratamento do sobrepeso e obesidade. Cada consulta é única, e cada indivíduo também!